Eu bem sei que, nunca
fui uma pessoa de acordo com todas as convenções histéricas impostas pela
sociedade. Afinal, nunca tive vocação para encenar certos sentimentos e aceitar
certas coisas incondizentes com a minha própria natureza. Há em mim mais paixão
e beijos quentes e amor que possam imaginar. Prefiro e quero da vida o que ela
tem mais luminoso. Não faço questão, não
dou a mínima importância para que me aceitem ou compreendam. Não estou aqui
para ser compreendido. Quem acha que deva ser compreendido perde seu tempo
nesse mundo onde os dados rolam fora do nosso controle.
A vida foi feita para
seduzir somente quem dela quer obter alguma coisa que possa ser dramática,
intensa, transitória ou até mesmo definitiva, embora haja tão poucas coisas
definitivas... Às vezes me cansa explicar que o melhor e mais belo nesse mundo
repleto de sombras desencontradas é buscar a luz própria. Por isso, não me venham com conceitos,
ideologias ou qualquer coisa, pois eu vivo em desacordo constante com as
possíveis variáveis das massas e manadas que agem como o script ordena a cada
cena.
Não me prender a nada que me defina é
uma arte de exercer liberdade, ou ao menos, a simples possibilidade de ser algo
tão inevitável e não inventado diante a companhia da mais extrema solidão, ou da mais doce
tranqüilidade de dias inconstantes. Sou reflexo de sorrisos e lágrimas que se
passaram e passarão, reflexo de dias quentes e frios, de horas de preguiça e sarcasmo
numa gradativa busca por mais uma nova sensação. Entendam, se ouço música alta e depois caio silêncio não há mal
algum nisso, nem mesmo algo a ser compreendido. Sou o que posso ser não
aquilo que você quiser. Aprendi a
me equilibrar nas coisas sem limites, a não ser tão cruel comigo mesmo e
aprendi que a cada vez que se erra é uma nova lição que se aprende.
Passei assim muitos anos assim e tantos que hão de vir ainda não irão me tornar mais esperto do que creia ser. Ao final dos dias a ilustre surpresa de tudo virar de cabeça para baixo pode me pegar em cheio e mudar tudo isso; e é por isso que aguardo sem anseio.
Não adianta você querer ser bom o tempo
todo... Querer isso é ser hipócrita ou falso. Há momentos em que nós somos maus
mesmo e, não adianta negar ou inventar desculpas, porque isso é fato...
Há
dias que você acorda pela manhã com o pé esquerdo, com um mau humor danado por
uma noite pessimamente dormida ou qualquer outra coisa. Ao decorrer do dia as
coisas só vão piorando, pois ninguém está realmente interessado em como estamos
nos sentido e lançam sobre nós todo tipo análise e afirmações descabidas.
Então, é a partir desse momento que você
começa a observar que as coisas mais simples ao seu redor poderiam ser resolvidas com
apenas uma coisa: Consciência. Daí
descobre inevitável: As pessoas não fazem uso dela, e quando fazem, fazem
apenas quando querem estar com a razão.
Não
raras às vezes tenho escutado: “Faça a sua parte” – Em especial numa
canção duma banda de rock que sempre ouço com aquele refrão repetido a
exaustão. Sem dúvida “faça a sua parte” é uma palavra de ordem ou muito mais
que isso; é uma teoria de como cada um, em meio aos acertos e desatinos deveria
se portar em um mundo desarrumado e comido pelas beiradas e ferozmente cativado
por pessoas sem nexo com elas mesmas. Sim talvez seja isso... Porque na
prática, queiramos ou não, somos todos farinha do mesmo saco, porém “toda regra
tem exceção” em alguns casos, digamos que “isso cola” e fazer a sua parte se
torna num método de santificação do caos agindo contra a correnteza de pessoas
tão banais com atitudes, pensamentos e crenças tão semelhantes na sua falta de integridade.
Entretanto, não estou querendo dizer que fazer a
sua parte não adianta em todos os casos, pois em alguns casos ou acasos, isso
não adianta mesmo. Há na maioria das
pessoas que dizem ter bom senso e sensatez ou algo que o valha uma enorme falta
consciência sobre seus atos, uma falta compromisso com suas próprias verdades e
uma falta de vontade de transformar tamanha mediocridade em algo melhor.
Encontrar com pessoas assim num dia de mau
humor é prenúncio de discussão ou desentendimentos. A sua natureza não está
disposta a ceder um milímetro a um cretino ou idiota qualquer que cruze seu
caminho dizendo o que você deveria fazer ou ser. Esse tipo de pessoa não merece
doces palavras, pois lhe falta consciência e respeito não apenas pela sua
pessoa ou estado, mas sim por si próprio.
Há quem diga que devamos nos afastar de
pessoas falsas e hipócritas para manter nosso bem estar. E isso é bem verdade,
porém quando estamos num dia de caos interno e externo são essas pessoas o
remédio para nossas impaciências e frustrações pelo simples fato de ficarmos
felizes de não sermos tão medíocres e hipócritas como elas por pura falta de consciência.
Ao contrário de Brás Cubas que não deixou o legado de nossa miséria para
outrem, eu, já repeti essa façanha por algumas vezes... Talvez seja por causa
da minha índole inclinada ao jogo do flerte e sedução barata sem medir as
causas e consequências... Talvez, não sei...
Grande parte dos mortais não sabe a sorte que tem de ser feio. Pois de tal
feita, quando alguém simpatiza contigo, já saberia que é por outra razão. Mas
isso já foi dito por algum velho sábio safado...
Tanto que a dica é velha, mas precisa ser repetida, de tempos em tempos...
Afinal, existem pessoas que precisam dar um upgrade na sua moral e auto-estima
vencida pelas propagandas de gente esbelta e sarada. Isso sim é jogo barato e
sujo! Massacre publicitário dos mais vis...
Isso já pode ser o suficiente para saber que, com o passar do tempo, muitas são
as razões para simpatizar ou amar alguém nada atraente fisicamente.
Nesse mundo miserável, repleto de homens e mulheres que se movem como sombras
em meio a uma vida barata e medíocre, onde belas roupas e carros potentes se
somam as faltas de perspectivas e se misturam com os vazios e ocos existenciais
tudo isso é uma trapaça e esconderijo que esconde as dores mais viscerais da
alma e auto-comiseração não explícita.
Ótimo bancar o psicanalista de araque numa situação dessas e arrematar: “Sou
diferente disso” - mas não, não sou, quase ninguém é... Se dizem que não é... é
porque também algo a esconder...
Deixemos de lado o que nos agrava como seres humanos e pensemos naquilo que nos
suaviza como repetidores duma saga onde muitos outros dessa raça humana já
fracassaram ao ponto máximo e foram felizes minimamente...
Qual foi o saldo da sua vida? Essa é a pergunta que creio ser feita no
julgamento “post mortem” seja pelo porteiro do céu ou inferno, se é que o céu e
inferno são lugares adequados para pessoas cheias de vida ou vazias de vida que
não cumpriram a risca o script dado para elas devido as circunstâncias...
Lembra o que o Ortega y Gasset disse não é?
Embora isso seja aparentemente fútil é de duma importância extrema ou
inevitável a qualquer custo que um dia ou, uma hora outra pensemos no saldo que
deixamos dia a dia em nossa caminhada pela nossa própria vida. Bem longe
daqueles conceitos de livrecos de auto-ajuda e dos palpites amigos que
massageiam o ego, pois muitas vezes é num banco da praça sentando olhando ao
seu redor que temos uma epifania moral e sobre o sentido do que somos e
queremos de nós mesmos...
Não se engane a vida não torna as pessoas fúteis, elas são culpadas de se
tornarem o que são e fazem isso dolosamente sem saber, pois, de tão insanas que
são que ficam buscando certezas fajutas em quase tudo e baldando-se as suas
incertezas mais capciosas. No fundo seria mesma coisa...
Péssima forma de angariar um patrimônio moral, espiritual e de experiência de
vida agir e pensar assim...
Sou obrigado a dar razão para Machado de Assis e preferir a máxima: Era bela
mas era coxa...não sobre a fulana, mas sim sobre a vida dessa vez... Salve-se enquanto há tempo!
"O mais pesado fardo nos esmaga, nos faz dobrar sob ele, nos esmaga contra o chão. Na poesia amorosa de todos os séculos, porém, a mulher deseja receber o peso do corpo masculino. O fardo mais pesado é, portanto, ao mesmo tempo a imagem da mais intensa realização vital. Quanto mais pesado o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais ela é real e verdadeira. Por outro lado, a ausência total de fardo faz com que o ser humano se torne mais leve do que o ar, com que ele voe, se distancie da terra, do ser terrestre, faz com que ele se torne semireal, que seus movimentos sejam tão livres quanto insignificantes, Então, o que escolher? O peso ou a leveza?" Milan Kundera - A insustentável leveza do ser
Confesso que provavelmente escrevo essas linhas para quem
sabe cem leitores, ou nem cinqüenta, ou nem vinte, ou quanto muito dez. Dez?
Talvez...cinco...
Esse diário trata-se duma obra difusa, na qual eu, Aloprado
Alonso, serei o mais livre dos mortais e o mais mortificado dos imortais.
Alguns podem crer e outros descrer no que estiver aqui
escrito. Mas eu ainda espero angariar simpatias da opinião alheia. Claro que
também aguardo o acinte daqueles que frustrados por sua vida ignóbil terão a
acachapante capacidade de apenas afrontar-se e afrontar-me ante ao aqui escrito
e dito. Nada mais justo.
Não quero ser unanimidade, pois como já foi dito pelo
mestre Nelson: “Toda unanimidade é burra”.
A obra em si é um apanhado de tudo e mais um pouco que se
passa e do que não se passou.
Se te agradar caro leitor; desejo-lhe votos de mais alta
estima, e; caso não te agradar, fique com o meu piparote em suas orelhas desde
já!
“Diga, pois, nosso senhor a seus servos, que
estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa, e será que,
quando o espírito mau da parte de Deus vier sobre ti, então ele tocará com a
sua mão, e te acharás melhor” -1
Samuel 16:16.
Já é terça de madrugada e estou escrevendo...No outro lado da janela da cozinha o
céu brilha planetas colidem uns contra os outros.Minha cabeça está fervendo e eu estou
um pouco desconfortável numa cadeira de design moderno comprada nessas lojas de
decoração que vendem quinquilharias desnecessárias.
Meu cérebro começa a se comportar como um motor que pegou na partida e
saiu cantando os pneus em disparada rumo a pensamentos e lembranças.As coisas não são o que parecem.Meus celulares parecem enfeitiçados e
ouço sussurrar neles animais e vozes estranhas no voice-message.
Talvez tenha a ver com esse fato:
Nesta noite, na varanda do quarto enquanto fumava um cigarro, de
repente, apareceu um vulto no jardim do quintal.Eu apertei a vista e vislumbrei a
sombra dum homem me observando.
Opa, eu pensei, algo de estranho está acontecendo aqui. Fiquei mais alerta depois disso.
Todos nós deveríamos saber que o trabalho do diabo nunca é totalmente revelado
até depois da meia-noite.Foi
nesse momento que comecei a pensar sobre porque algumas pessoas se arrepiam
quando se deparam com simples relatos sobre essas coisas. Não há o que temer ora bolas... pelo menos não
se deveria ter medo do relato.
Pois bem, lá estava aquele vulto misterioso no quintal e de repente o
mesmo se moveu na escuridão total e sumiu de vista.
Tentei ficar calmo e esperar ver se o sujeito voltava, e por um momento eu pensei escutar
alguém entrando na casa, mas não poderia ser já estavam todos dormindo...
Um frio na espinha me fez pensar que era um ladrão, mas resolvi descer e
ver qual era a real situação. Desci a escada lentamente com o cinzeiro na mão e fumando mais um cigarro. Passo a passo na
escuridão como se também fosse um vulto ou anomalia do outro mundo para quem
estivesse ali embaixo.
Apenas duas ou três coisas no mundo são mais aterrorizantes que perceber
de repente que você está nu e só: É algo desconhecido que te espera no seu
destino.
Ao chegar ao térreo, vi que ninguém estava ali, nem mesmo o yorkshire de
estimação.
Só que, mais uma vez eu vi o vulto! Dessa
vez ele tinha o tamanho de três homens e estava com um cachorro preto
enorme ao seu lado e então eu pensei que diabos é isso?
Para piorar, outra pessoa parece se
aproximar pelas minhas costas. Pensei:
“Deve ser minha namorada, deslizando furtivamente na escada para me fazer uma
agradável surpresa”.
Nesse mesmo instante escutei uma voz grossa me
chamando pelo meu nome e a temperatura do ambiente esfriou de repete ou eu gelei! Olhei
para o vulto e cadê o vulto? Tinha sumido novamente! Olhei para trás e cadê
quem estava atrás? Não era ninguém!
Pensei: “Devo estar paranóico e pinel!” - “Devo ter ficado louco!” Uma onda de incredulidade tomou conta dos
meus pensamentos e fui até a geladeira pegar gelo para preparar uma dose de whiskey on the rocks...
Abro a geladeira e do nada vejo uma sombra entre mim e a luz da porta da
geladeira aberta. Logo que me viro lá está ele! O vulto! Novamente com seu
cachorrão! O meu corpo fica imóvel como estátua com a forminha de gelo na mão
por alguns segundos...
Lá estava eu peladão e imóvel gelado e segurando gelo. Irônico não?
Então o vulto indefinível começou a conversar comigo com sua voz grossa
e rouca, numa boa sem me pregar susto algum.
Falou que eu deveria ir num cemitério nesta mesma noite, e jogar uma moeda
sobre o tumulo dum fulano de tal.
Ao contrário do que muitos pensam.Não
foi nenhum ser com chifres, ou garras nem fedendo a enxofre que estava ali
falando comigo. Exceto pela voz de rádio AM fora de sintonia e alguns uivos dos cães
da vizinhança estava tudo normal ali na cozinha.
Eu continuei fumando e até perguntei por educação para o vulto se ele
queria um dose de Jameson on the rocks. Depois disso o vulto sumiu e já era quinze para meia noite. Eu me vesti peguei o carro e fui ao cemitério.
Quem sou eu para contrariar um vulto que aparece na minha cozinha tão
gentilmente não é mesmo?
Quando cheguei no cemitério
conforme as instruções do vulto, eu carreguei minha 45 automática e andei
alguns metros pelo pátio do cemitério.Então
eu voltei para dentro do carro, pois tinha esquecido de pegar a moeda que havia
de jogar no jazigo indicado.
Peguei a carteira para procurar uma moeda, e novamente a voz passou a me interpelar.Por Deus!Pensei: “Alguém está querendo me foder
a vida e fez macumba para mim!”
Nesse momento eu fiquei com medo mesmo e resolvi ligar o som do carro
bem alto para ver se a voz sumia! Eu precisava de música, precisava de um pouco
de ritmo e de barulho.
Aumentei o volume ao máximo e dei play e começou a tocar:
Só sei que baixei o som logo que o riff da
guitarra entrou no solo... e meu coração estava batendo a mil e dentro mim estavam gritando algo como
lobos aú aú aúuuu.
De repente surge através dos ramos de plantas do cemitério um sujeito
de gravata borboleta, camisa branca, terno escuro e careca. Era um cara mais ou
menos de uns cinquenta anos de idade, que usava um distinto anel de ouro e tocou minha mão de leve. O
sujeito me disse com voz firme e olhos fitos no meu rosto sem piscar e sem
tomar fôlego, mais ou menos um palmo de distância face a face uma única frase: “Desprezai
todos os covardes e todos os soldados profissionais que não ousam lutar, mas
brincam; todos os tolos desprezai”.
Depois disso ele se virou e sumiu por onde aparecera.
Logo que ele saiu, eu notei que havia uma moeda caída no chão.
Aproveitei que estava precisando duma moeda para cumprir o que o vulto me
pedira e fui fazer o que tinha que fazer e voltei para a casa. Não houve nada de estranho e além da
imaginação. Apenas fui lá e joguei a moeda no jazigo e dei no pé.
tomando um café sem açúcar com
cigarro entre os dedos;
e, pensando que chegou a hora de
confessar aos leitores o que é a vida de um mero mortal aos curiosos de plantão
com tantas dúvidas sobre mistério da minha real identidade, pois sempre me
questionam: “Quem é você cara?”
Eis a resposta que sempre pensei
em dar:
Abram-me todas as portas!
Por força que hei-de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma…
Passo sem explicações…
Se for preciso meto dentro as portas…
Sim — eu franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque eu neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há-de passar por força, porque quando eu quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!